o encontro do floco com a neurose

era natal em todos os lugares do mundo menos em um. que era ali. e ali era o que seria todos os lugares do mundo caso todos concordassem que sim. mas como ninguém nunca concordou com nada desde que começou a história de que um beija o outro; e o tesão acabou com qualquer possibilidade de dois afins desfrutarem do paraíso que é o silêncio das afirmações compartilhadas; o ali segue entreaberto. como o momento entre o sonhar e o estar acordado. o ali é onde não se sabe se realmente a cama molhou ou ainda é o sonho de mar. ali é o segundo depois que o cérebro coça o pulmão quando a gente tenta se afogar de propósito mesmo sabendo nadar. eu descobri esses dias a melhor invenção do ali que é a felicidade. porque tudo que está entreaberto é sujeito à novas invenções ainda que paranóicas. e não que eu a tenha a encontrado e a lambido as pernas; que a felicidade jamais deixaria um beijo molhado sucumbir na eternidade; porque o ali e todas suas invenções precisam que tudo seja mais ou menos misteriosamente tangível; fui permitida apenas numa visita rápida pois tornou-se perigosa a vida em flertes com o precipício. eu vi no ali -de queixo caído- a felicidade; pairando melancolicamente como um floco de ouro minúsculo; habitando todos os milésimos de segundo do pré-momento do que acredita-se ser a felicidade como um todo. em sobriedade cotidiana eu te conto assim: quero energia e escolho um café e peço por ele e o espero e a felicidade não é bebê-lo mas o movimento que faz a mão que o preparou e o traz até mim. já quando abraça a língua e a paleta de sabores que cativei até hoje: não se sabe onde foi parar a tal. eu que sempre pensei que a felicidade era enorme agora me esfrego ansiosa para me limpar de tanta bobagem. é pequena e sensível. é o nanossegundo antes de virar meia noite do dia vinte cinco de dezembro. chega a ser maldita de tão perene. tive ainda mais certeza quando lembrei que não pairou o floco de ouro sob a minha cabeça depois do brinde do que se deseja numa noite cristã. desde então em frente ao espelho me pergunto por que por tanto tempo na falta dos milésimos procurei por horas. não demorou para que logo me deparasse com outro ali. um outro muito obscuro que não ouso entrar nem mergulhar nem me afogar nem muito menos descrever ou escrever sobre: aquele que existe quando a gente se olha e automaticamente se vê.

5 thoughts on “o encontro do floco com a neurose

  1. gente…o q que eu acabei de ler que me deixou sem cu? nao sei das misturas de sentimentos q eu não entendi entendendo

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