meia molhada

perder a memória, não perder a memória, entrar no trem para ir embora, não entrar no trem, não ir embora, ir embora, cortar na metade por cima o frango para que fique mais fino e tenha amanhã, cortar na metade no meio o frango pra que fique mais grosso e seja mais comida pra um jantar só, guardar um segredo, que grita mais alto do que, não guardar um segredo, que existe em sussurros ao vento, e quando venta muita água, não sei o momento de abrir o guarda chuva na volta pra casa, eu penso que – são apenas alguns minutos molhada, não precisa porque é rapidinho, mas nunca é pouca água, nunca é, eu era pequena e me disseram que a chuva não molharia menos se eu corresse, porque eu corria, e que mesmo andando rápido a chuva era mesma, porque aí eu corria um pouco menos, e que a chuva, ela, não ligava pra pra mim, porque eu ficava olhando pra cima, nem pra minha velocidade ou pra minha pressa, ou pro meu cabelo, que eu tanto chorei por causa de, e que a chuva, ela era ingrata, eu era já grande, uns meses atrás, quando ouvi que a chuva entraria por todos os buracos da minha bota velha, porque não sabe, a chuva, o que é novo e o que é velho, o que quebra e o que não quebra, às vezes eu também sou assim, por isso não fico com raiva do aguaceiro, eu fico com raiva por não me entender chuva, por me cobrar todas as árvores/vidas que já derrubei em explosões desgovernadas, por isso quando a meia molha eu não penso – que merda a chuva, eu penso, que merda eu que não comprei novas botas, aí eu penso que ruim perder a memória, mas logo me rebato, porque afinal, acabei de lembrar

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