challah de tapioca enrolada no papel chamex

Passeava eu pelos comércios de rua do Rio, fazendo hora enquanto esperava minha mãe fazer a manutenção da unha de vidro que custa 90 reais, 3 horas e reclamações várias. Vejo uma papelaria. Tem muito tempo que eu não entro numa, que é uma proposta de experiência latino-americana, que estadunidense não tem papelaria, tem Staples, que não é a mesma coisa, porque papelaria é todo um conceito que eles não acessam. Ao lado da loja de bolo e salgadinho e vira-latas, ali está: a Papelaria Shalom. Que também vendia açaí. O estadunidense não teria nunca o potencial de apresentação estética e antropológica do Rio de Janeiro. Manumíamermo. Que saudade. Poucas vezes fui tão feliz como fui enquanto passeava pelos corredores cheirando as canetas de glitter e passando a mão nos adesivos do caderno da Jolie que eu tinha e nunca usei pra guardar pruma ocasião especial que nunca chegou. Meu Deus. Um caderno da Pucca. Pucca mais Garu. Ele é bonitinho. Ninjas se amam em macarrão. Respiro. Coloco de volta. Setenta reais um caderno, mermão. Vou pro corredor de cacareco. Tenho interesse na espiritualidade quando ela diz que podemos acessar outras dimensões, porque ainda tenho esperanças de encontrar meus adesivos, os papéis de carta, tazos, tarrachas e a lapiseira do RBD que eu deixei cair no chão em 2007 e nunca mais encontrei. Dezoito reais uma caneta que eu vou morder a ponta, mermão. Antes de partir pra minha triste vida desprovida de clips, fui até o balcão pra perguntar pro moço a história do nome da papelaria. Enquanto limpava as mãos sujas de açaí num papel de notinha, disse que os donos eram tuduládi Ricifi, – judeus, ládi ricifi. Eu perguntei se é mesmo moço, – é mesmo moço? de Recife? – tudilá e eu também, respondeu. Eu disse que achei o nome curioso, – achei o nome curioso, – é judeu também. Todo cheio da certeza que eu queria ter na minha vida, tal qual uma pessoa que usou todos os papéis de carta que juntou na infância,  ele responde que Shalom é um barulho de explosão. E reproduziu o som, o moço. Explodiu ele: – significa explosão, SHALOOOOOM, tipo BOOOOM, sabe, quando explode? Eu disse que sei, claro – sei, claro. Acho que é isso, e finalizou a conversa. Eu disse que deve ser mesmo, – deve ser mesmo.



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