apenas a volta do emo poderá salvar o brasil

a princípio a criatura curtia rock brasileiro. só mudou depois. tinha opiniões quase bem formadas sobre a política estadunidense. um argumentador mezzo criativo. obedecia mãe mas pai não muito. só porque ela o deixava colar adesivos na janela do apartamento alugado em são paulo. o pai -que era com certeza médico porque o garoto mal tinha marcas no joelho- gostava de janelas limpas que assim é mais fácil vigiar a carla que mora no apartamento cinco do outro lado da rua. na falta de marcas vermelhas encontrou no boletim uma vingança justa. depois do divórcio ficou em recuperação todo ano. não ligava pra geografia e história e achava português um saco. a professora -que tinha a bunda maior do que a cara- -em suas palavras- era o tema de seus sonhos. só se interessou pelo colégio quando no último ano do ensino médio a mãe serviu fígado e disse que era bife. sentiu-se enganado e traído e finalmente inspirado a sair de casa cedo. chorando pensava que há algo de errado com o estado civil do brasil ou da mãe ou do pai ou da carla. dramático porque na comunidade do orkut todos eram. por uma questão de afinidade. um dia pegou um cruzeiro da coleção do avô e vendeu pra pagar o cinema e a comida da primeira namorada que conheceu no orkontro. de tanto desespero pegou emprestado até os pesos que o avô tinha guardado de uma viagem ao uruguai em mil-novecentos-e-não-interessa. tremeu explicando ao atendente do mcdonalds que tinha confundido as notas porque acabara de chegar de viagem com seus pais que eram muito bem casados. como aquele docinho de casamento que parece uma pamonha enrol– foi interrompido pela mão da menina envergonhada. comprou um violão depois do término. e terminou porque em 2009 não era legal ser feliz. legal era pintar o cabelo cor de my chemical romance e o cinto do pete wentz. muito caráter foi formado por quem soube interpretar o verdadeiro conceito de ser triste propositalmente. o garoto continuou colecionando emprestado os cruzeiros do avô e contou pra Dulce Safadeenha que era sua melhor amiga do fake que no futuro os trocaria por muitos dinheiros porque valeria muitos dinheiros. Dulce gostava dele porque o achava rebelde num tom bem mexicano. esse garoto insuportável comprou guitarra com dinheiro da chantagem que fez pro pai agora ausente porque carla fez um bebê de oito meses do nada. compunha solos que jurava serem originais antes de dormir. eram na verdade plágio do panic! at the disco que era a única forma de usar o ponto de exclamação. a tal da professora com a bunda maior que a cara chamou a mãe no colégio e disse que desse jeito não dava mais. a mãe perguntou que jeito é esse e a professora disse que a escola não aceita a tribo emo ainda mais se for repetente. depois que foi expulso da escola deixou o emo de lado e foi aí que veio a primeira crise de existência. até comprou uma calça amarela mas se juntou com uma galera esquisita que passou a criticar todas as formas de opressão. como o imposto. nessa história de interesse por cruzeiros se sentiu acolhido. logo mais já amarrava o suéter no pescoço no primeiro período de administração. secretamente escreveu umas três músicas sobre a noite que fodeu pela primeira vez. porque continuou ignorando a geografia teve muita dificuldade em achar o caminho até os meridianos do corpo alheio. e foi assim até o dia antes da formatura quando arrancou os adesivos na janela porque a menina disse que não gozava porque ficava distraída olhando pro gerard way no vidro. uns meses depois de aprender a usar o canudo -biológico e acadêmico- subiu e desceu as janelas do msn em busca de alguém que tivesse tanto medo quanto ele. medo do rumo que o brasil tomava. o avô morreu e ele levou pra uma viagem inesperada uma mochila que só tinha duas cuecas. a mãe confusa. o pai largou o plantão. os dois passaram uma noite inteira sentados em seus respectivos sofás. até que a televisão da carla mostrou o garoto de relance que ela jurou. passou atrás de um repórter que anunciava uma confusão no planalto. pelo menos no brasil ele ainda estava. não demorou pra Dulce Safadeenha que na verdade chamava Marcela bater na porta da casa da mãe do figurante de protesto televisionado. disse que estava grávida de um filho que se chamaria gerard e no embalo do anúncio contou que sabia onde ele estava até uns dias atrás: brasília. e se foi quando ouviu o resultado positivo. Dulce se mudou pra lá. pra casa dos adesivos. não houve sinal nem interesse pelo resto das cuecas durante um ano. o primeiro sinal de vida que deu foi no facebook com a frase o gigante acordou. a Dulce Safadeenha e gerard e os pais e a professora da bunda grande assistiram pela televisão e pelas redes sociais o garoto gritar de cima de uma espécie de trio elétrico. com uma blusa do brasil. defendendo a família tradicional. não sei de quem. esperava-se muita coisa do garoto que achava português um saco e ignorava geografia e história. mas nem nos piores pesadelos alguém imaginou que o garoto que tinha tanto potencial pra destruir a própria vida de formas outras já que; cursou administração; tinha a opção de assumir um filho gerard; torcia pro palmeiras; poderia ter escolhido viver de música; foi escolher logo o movimento brasil livre. esse interesse do jovem pelo liberalismo é a consequência dos danos causados pelo fim do emo. ele que não soube encontrar seu caminho até a vida amargurada do café gelado num apartamento com chão de taco. resolveu culpar o estado pela sua incapacidade de sustentar questões existenciais. o fim da fresno foi pesado demais. eu não gostaria de contar como anda a criatura em tempos de dois mil e vinte um. mas deixo um apelo. emos: uni-vos a fim de voltar a chorar deliberadamente porém debaixo de uma franja. tinha um charme no propósito. talvez precisemos disso.

3 thoughts on “apenas a volta do emo poderá salvar o brasil

  1. fiquei curiosa para saber como anda a criatura em dois mil e vinte um e será que ele assumiu o filho gerard?

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  2. Essa história tem dois finais . Os outros 50% de pós-emos hoje em dia simplesmente vivem entre nós, escutando playlists baixadas desde o 1° iPod comprado usado em meados de 2006 até 2009. Pessoas comuns, cidadãos comuns (e não de bem).

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