equinócios

existiu um palhaço apaixonado por um ilusionista, que odiava ser chamado desse jeito, por isso era apaixonado pela bailarina, que o chamava de mágico e o tratava como tal, fazia pois era uma bailarina muito educada, existia o mínimo possível, dizia dez palavras por dia, dançava para longe das perguntas, amava em silêncio a ausência do mesmo, gostava de organizar os barulhos dos passos, encantava muitos homens e mulheres, mas nunca o espelho, não os caracóis vermelhos do cabelo preso num coque, firme como sua mãe foi, quando lhe disse que bailarina nenhuma casaria com um ilusionista, mágico – que corrigiu o homem enquanto esquivava a cara do dedo da nunca-sogra, o que entristeceu a nunca-esposa, mas não a fez murcha, afinal não pensava em matrimônio, não o amava, não sabia o que era amor, achava que estar contente com o sentimento do outro era de bom tamanho, de bom corpo, sem muitas curvas, era direito e estreito, longilíneo, isso de amar o amor do outro, como quem segue uma coreografia, que nem com o melhor dos truques pode-se dançar, era o que amaciava os calos da carência, que sentia profundamente, mas que logo passava, porque desenvolveu uma técnica, tudo era muito técnico, mesmo sem um pedido ou qualquer sinal de um, imaginava o pavoroso sapato vermelho do palhaço, ter que lava-lo, amarra-lo os cadarços, uma casa manchada de batom, com a tecnologia de uma mente acostumada a rodar sem cair, imaginava a tristeza de chegar a essa casa colorida e cheia de cacarecos, imediatamente esvaia-se da vontade do toque, concluía então que não correria nunca, pois não arrisca os joelhos e os dentes, mas correria para longe de casar com um palhaço, o que não sabia era que, o coitado jamais juntaria as trouxas com uma mulher, e como poderia uma bailarina saber disso, saber que o palhaço só se mantinha perto por desejar um outro corpo, um mágico, que esse sim estava sempre atrás dela, a bailarina não imaginaria nunca, que a performance pudesse se apaixonar pelo truque, que o riso pudesse se apaixonar pelo susto, assim tão perdidamente, a ponto de viver por assistir o amor pelo olho mágico.

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