efemerópteros de sorte e outras maneiras de calcular 2+2

achava que quase que tinha certeza que aquele foi o último dia da existência da coincidência. chegava cada vez mais perto de encostar a boca no destino. preparava a mordida que selasse o contrato da beleza do acaso com a presença física de dois num mesmo espaço sem aleatoriedade. aos poucos congelava-se o passado e na única fumaça que subia ao céu – que naquele dia recusara qualquer sopro sem amor – estava tudo o que já se soube sobre o futuro. eram dois afins em tons diferentes: o sussurro e o grito e de repente tudo combinado. como diálogo de fim de filme que antecede o início da música de crédito que acompanha sua corrida até o banheiro. diálogos que combinam assim: a borboleta só vive dois dias. então quer dizer que ela só vive dois dias. sim. e antes era um lagarto. era. e muda assim desse jeito. é. não posso competir. quem pode. só quem voa. talvez nem quem voe. talvez. depois o silêncio curto. aí fechava os olhos do mundo: agora o arrepio parecia ter combinado o toque e a fala e os dedos com o relógio e os tropeços e o passado. os olhos castanhos foram percebidos com atraso mas abriram-se como chave da caixa onde esconde-se tudo o que nasce às 10:30 no rio de janeiro. os números que são cores. a vida que dessa vez foi gravada na memória em cor de lavanda. já hoje não se sabe mesmo por onde anda a coincidência; mas enfraquece o destino quando perde-se o cheiro; mas as cartas pintam de outros caminhos; mas outros casulos gozam de outras cores; mas apagam-se as luzes ao mesmo tempo em duas cidades diferentes. pensou que contente são as ideias fictícias que se misturam nos registros racionais e vivas seguem sem a menor preocupação com a realidade ou sentido. na verdade são vinte e quatro horas que essa espécie de borboletas efêmeras vivem. gostaria de continuar acreditando que eram quarenta e oito. isso antes de encontrar a sorte nessa descoberta recente. sorte da poesia e não da matemática. quiçá dos amantes. tanta coisa deveria ser sobre medo. coisa estranha é querer explicar. acha a pretensão em ser entendida coisa pequena. de qualquer forma por segurança deseja pensar menos durante o dia sobre seus corpos durante a noite. verbaliza e tropeça nos risos frouxos e diz que é de raiva mas é de carinho. terá material de vitalidade em todas as vírgulas que pretende escrever quando existir coragem de assumir um formato mais claro do desenrolar de palavras. gostaria de repetir poucas coisas que aconteceram. às vezes esquece de seus momentos favoritos. questiona-se por onde andam as histórias engraçadas e quantas das declarações são verdadeiras. quantas outras ouviram e desfrutaram do mesmo vento que bateu na barriga por causa do sorriso nu. por causa dos corredores descobertos de luz mas iluminados de um amor que surgiu não sei da onde. declara guerra à vontade do vôo que perpetua por mais do que se pode; porque só existe metaforicamente; porque só existe se inventarem uma nova forma de calcular o que é único em dois. isso se houver interesse em desafiar a duração que talvez já tenha sido programada. desafiar em específico para-além da escrita. enquanto não acontece pede por duas coisas. que por favor diga qualquer coisa menos que acha lindo. que não permita ser solitário o lugar onde mora o encontro efêmero da sorte com o fim da coincidência. promete absorver a repetição de que tudo dará certo. imagina isso tudo ao som de qualquer sequência de músicas enérgicas com letras melancólicas. da forma mais estúpida e patética e exagerada. não justificará porque opta por não falar de saudade ainda e talvez nunca. ponto de exclamação. ponto de exclamação.

3 thoughts on “efemerópteros de sorte e outras maneiras de calcular 2+2

  1. Essa terça na minha quarta me atravessou de uma forma que nem sei se algum dia você imaginou que suas palavras pudessem fazer. Parei meus afazeres e agora tô só a lágrima no cantinho do olho direito.
    Agora o esquerdo também. Brigada nalü

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