não lembro o número do seu apartamento
aperto os olhos e vasculho a memória
e só sei do casaco amarelo
qual o botão que apertou no elevador
qual qual qual qual
foda-se
aí eu entrei e
aquela ali que eu era
puff nunca mais
nunca mais teve aquela eu
em nenhum lugar e nem elevador
quando um acontecimento fica guardado
em fragmentos sobra muita fantasia
desde pequena que percebo que
minha mente grava melhor quando quase metade
eu romantizei ou vivi sozinha ou sonhei que vivi
ou queria ter vivido e não é mentira
é verdade e é aí que mora o perigo
bem ali no apartamento que eu
não sei o número é que mora o perigo
aperto os olhos e vasculho a memória
mas só lembro de tirar meu sapato de boneca
pra pisar de pés descalços no chão
da casa do risco
abre parênteses
lembra que eu disse que sou viciada em adrenalina
fecha parênteses
fiquei ensaiando o que vou te dizer
pra parecer que eu nunca nem tchum
mas briguei muito com meus lábios
porque fico achando que ultimamente
minha língua tem enrolado estranha
outro dia tive uma paranóia dessas
fiquei uns bons minutos analisando
do espelhinho do carro
como eu junto as sílabas
enquanto falava qualquer bobagem
parecia que tinha mudado muito
a forma que eu falo
fiquei com medo de ter deixado com você
uma parte do jeito que eu articulo símbolos
era maconha
sóbria; o problema é que eu entro; atravesso
pela porta do desconhecido
sem prestar atenção no número do andar
ou o endereço ou o nome da rua e
toda caótica
abre parênteses
vasculhei a memória digital
o famigerado zapzap
descobri que na verdade eu bem
tenho o nome da sua rua
o que acaba com alguns porcentos
dramáticos dessa odisséia
fecha parênteses
quando eu vi eu já fui e eu tava
porque é assim que eu sou
sem contar as
vezes que mesmo sem mim eu tô
impressionante
Cara eu amo a tua escrita.
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